Cinema com amigos (não, não são amigos de cinema)

Written by Jorge Ferraz on February 23rd, 2011

Eu gosto de filmes de exorcistas. Mas “O Ritual” não é tão bom quanto “O Exorcismo de Emily Rose”, infelizmente. Assisti-o ontem; é uma boa produção, é uma história interessante, chega mesmo a ser um bom filme; no entanto, resta-me a impressão de que poderia ser muito melhor, e que talvez tenha sido isso que me fez sair com uma pontada de desapontamento da sala do cinema ontem à noite.

As coisas que poderiam ser melhores, e não o são…! Lembro-me da parábola dos talentos. O servo que recebeu dois talentos e deu mais dois ao seu senhor foi elogiado; no entanto, se os mesmos dois talentos de lucro fossem apresentados pelo servo que recebeu cinco talentos, será que o senhor iria elogiá-lo tanto? Eu duvido. A despeito de ser bom, o filme poderia ter sido melhor. Eu esperava mais. Vinte por um não é o bastante para o grão que tem potencialidade de frutificar o cêntuplo.

Enquanto isso, conversas com amigos sobre assuntos os mais diversos possíveis. Isto, sim, vale a noite; é bom estar com amizades verdadeiras. Há (muita!) carência de bons amigos neste mundo – como comentava um outro grande amigo que, este final de semana, concedeu-nos o grande prazer de nos visitar aqui em Recife. As amizades tornaram-se interesseiras, tornaram-se virtuais, tornaram-se descartáveis, tornaram-se – digamos – compartimentadas. Com algumas pessoas nos sentimos bem em festas e ambientes alegres; com outras, dividimos os nossos trabalhos. Com outras nós trocamos palavras superficiais no elevador, de manhã e à noite. Com outras conversamos sobre interesses afins. Mas quantas abarcam a totalidade da nossa existência, com quantas compartilhamos o mais íntimo de nossas almas…? Corremos o risco de, em meio a um milhão de amigos que servem cada um a uma ocasião, esquecermo-nos das amizades de todas as ocasiões. Ou, melhor dizendo: das amizades de nenhuma ocasião. Daquelas que são para nós como nós somos, nós em nós mesmos considerados. As únicas que merecem o título de “amigos”.

 

Novelas e filmes

Written by Jorge Ferraz on February 18th, 2011

Conselhos de trabalho na hora do almoço: “faça alguma coisa diferente”. Sugestão: “assista Ti-Ti-Ti hoje” (ou seja lá como se distribuam os hífens e as letras maiúsculas no nome desta novela). Um homem é um homem; fui-me ver a tal novela. Terrível.

Uma mulher brigando com o sogro (acho) porque queria ir embora da casa; depois, o marido chega e termina o casamento. Um sujeito fingindo-se de mestre budista, ou de sensitivo tarólogo, ou de sei lá o quê. Um casal armando um barraco num restaurante (previamente combinado entre os dois), em meio a uma guerra de comida. Dois homossexuais conversando e tentando ser “amigos” (não quero nem imaginar o que foi que teve nos capítulos que eu, graças ao bom Deus, não assisti). A madrasto (acho) empurrando a filha do outro para um cara com quem o pai não queria que ela namorasse. E, enfim: tudo isso passando em cenas curtas e desconexas, mudando rapidamente de uma para a outra. E sem o menor cabimento: uma verdadeira colcha de retalhos de futilidades. Foi terrível; eu não somente não me interessei nem um pouco pela novela, como também (e principalmente) tive que me esforçar para assisti-la até o final.

Em contrapartida, o “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004) é excelente! O filme é confuso a ponto de você demorar um pouco para começar a entender as coisas (e eu, meio lerdo, só entendi as coisas importantes ao final dele). Mas é bonito! A Clementine é um encanto de garota, e o Joel foge – e muito – do estereótipo do homem canalha do qual as mulheres costumam gostar. Mas o casal não dá certo… A idéia de apagar as memórias e ganhar uma nova vida é interessante; o arrependimento do cara, no meio do processo, e o conseqüente desespero dele para salvar um mínimo que seja da antiga namorada… é angustiante.

É uma história de romance, de ficção científica, de drama, de ação e de aventura: há memórias a serem salvas porque, por dolorosas que sejam, elas constituem aquilo que somos. Pode ser assistido e re-assistido. Vale a pena.

 

Bravura Indômita

Written by Jorge Ferraz on February 16th, 2011

Fui ver “Bravura Indômita” no cinema. Provavelmente não vai ganhar o Oscar, porque não é perturbador como um “Cisne Negro”, inovador como um “A Origem”, comovente como um “O Discurso do Rei”. Mas é um excelente filme de faroeste, de valores morais, de sentimento religioso.

A menina que quer vingar a morte do pai, o velho e rabugento caçador de recompensas, os bandidos que preservam um mínimo de honra. Os personagens não são novos. A atuação dá um colorido todo especial a trama. O mérito, a meu ver, está justamente no resgate de temas que estão fora de moda. Não me recordo do último filme de faroeste lançado, da última vez que protagonistas fumavam tranqüilamente na tela do cinema, do último bandido que, ao morrer, preocupava-se com uma sepultura cristã. Os temas não são novos; mas o resgate deles é inovador e digno de menção.

A primeira frase do filme, logo em epígrafe, é extraída do livro dos Provérbios. O condenado à forca, do cadafalso, faz uma exortação para que as pessoas não caiam na mesma desgraça em que ele caiu. A menina encomenda-se à caçada do assassino do pai sob os auspícios do Salmo 22. O filme é leve e é bonito, sem ser maniqueísta: há bondade e há bravura, e há maldade e pusilanimidade, sem que elas sejam (muito) caricaturizadas. Há até mesmo um final feliz, sem que seja contudo um final perfeito.

Não é um blockbuster. Más é, enfim, um bom filme – que vale a pena ser assistido.

 

Devaneio e realidade: silêncio, sombra, saudade

Written by Jorge Ferraz on February 6th, 2011

“Devaneio e realidade”, como canta a Teresa Tarouca. Silêncio, sombra, saudade. É domingo. É dia de descansar. Ainda algumas lembranças do final de semana… deitado, em casa, vendo o tempo passar. “À toa na vida”. Muito, é censurável; mas, às vezes, é necessário. Deixem-me aqui.

Algumas lembranças. De “Cisne Negro”, que assisti sexta-feira! Filme nervoso. “Devaneio e realidade”, sem dúvidas. Filme tenso. Perturbador. Comentava sobre ele ontem, no casamento; a discussão era, justamente, sobre a impropriedade de classificar os filmes em “gêneros”. Este, por exemplo, tecnicamente é “drama”… mas é drama mesmo? Possui drama, sem dúvidas. Mas possui terror, possui suspense, possui erotismo, possui dança, possui romance… possui muita coisa. Como eu dizia ontem, aquele filme… é trash. Sustenta-se ele na minha cabeça por três pilares negativos: eu não sei classificá-lo em nenhum gênero. Eu não sei dizer se gostei do filme. Eu não sei se o recomendaria a alguém. É perturbador.

Enfim, domingo de lembranças. Sábado de ABC: Aniversário no início da tarde, Batizado de tardezinha, Casamento de noite. Amigos diversos em lugares distintos. Bons amigos… e talvez por isso o marasmo dominical. Uma espécie de ressaca sentimental, a solidão que se apresenta com cores mais fortes por conta do forte contraste com o dia anterior: com o dia repleto de amigos de uma ponta a outra, alguns que eu vejo sempre, outros que eu não via há tempos, todos queridos.

Silêncio. Sombra. Saudade. Saudade, silêncio e sombra. É o ocaso do fim de semana, que foi tão bom…! Mas sempre vale. A saudade é quase sempre um preço pequeno a se pagar pelo prazer da companhia; e, no caso específico de hoje, o preço é irrisório. Que venha a saudade, invadindo o silêncio, ressuscitando as sombras de ontem. Vale a pena.

 

Marido e mulher

Written by Jorge Ferraz on January 9th, 2011